Antes de você começar a me falar sobre todos os medicamentos para diabetes que quer que eu tome, deixe-me esclarecer que eu não vou tomar, porque eu não tenho diabetes. Não é uma citação exata, mas está bem próxima e captura perfeitamente o espírito do comentário por um estudante de farmácia no quarto ano. A paciente — vamos chamá-la de Cora — foi recentemente diagnosticada com diabetes tipo 2 e foi encaminhada para uma clínica de diabetes liderada por farmacêuticos.
Era evidente que Cora não estava nada contente.
Decidiram tentar entender a origem desse mal-entendido e perguntei se o médico dela havia explicado o motivo do diagnóstico de diabetes. Ela respondeu que não, e, quando se lhe ofereceu uma explicação, ela se mostrou disposta a ouvir.
Nos sete minutos seguintes, explicou-se o que era o exame de hemoglobina glicada (A1c) e como ele se relacionava ao diagnóstico. Também discutiram a prevalência da diabetes nas comunidades negras e a importância de controlar os níveis de glicose para prevenir complicações graves. Ao final, Cora estava pronta para discutir seu plano de tratamento e agradeceu pela paciência.
Agora, entre em uma sala cheia de estudantes de profissões de saúde e pergunte quantos escolheram essa área para educar pacientes. Provavelmente muitos levantariam as mãos. Mas, se perguntar a profissionais já formados se a educação do paciente é priorizada, imagino que muito menos mãos se levantariam.
O problema é que a educação do paciente é uma prioridade na teoria, mas na prática, não é tanto assim. E as razões são diversas.
Não podemos resolver os problemas de educação do paciente e alfabetização em saúde sem enfrentar as questões de confiança que existem entre o público e o sistema de saúde — desconfiança alimentada por desinformação (Misinformation), má comunicação (Miscommunication) e incompreensões (Misunderstanding).
Apesar da queda na confiança em saúde pública nos últimos anos, ainda há esperança. A confiança permanece alta em termos absolutos, mas para restaurá-la, mudanças profundas são necessárias na forma como educamos e interagimos com os pacientes.
Parte um deste ensaio explorará as razões da queda da confiança, enquanto a parte dois trará uma visão renovada sobre como profissionais podem reimaginar a educação do paciente, aplicando uma ferramenta subestimada e pouco utilizada.
A educação do paciente não está desaparecendo, mas o modelo formal de educação em saúde está precisando de mudanças.
Quando se fala de educação do paciente, há vários métodos: materiais escritos, vídeos informativos, ou conversas verbais com enfermeiros ou farmacêuticos. No entanto, frequentemente ignoramos a "educação informal" que pacientes recebem — muitas vezes, contrária às orientações dos profissionais.
Surpreendentemente, nos EUA, o Barômetro de Confiança da Edelman de 2023 mostra que a confiança das pessoas em familiares e amigos para informações de saúde está no mesmo nível da confiança em especialistas médicos, subindo 11 pontos percentuais entre março de 2022 e março de 2023. Muitos também afirmam seguir conselhos de amigos e mídias sociais que contradizem as orientações médicas.
Esses fatos desafiam nossa definição de educação do paciente. Como podemos continuar sendo as principais fontes de conhecimento em saúde se não estamos educando da forma que os pacientes valorizam?
O problema não é apenas a desinformação. É também a forma como nos comunicamos. Muitas vezes, mesmo que se compartilhe o mesmo idioma com os pacientes, não se está falando a mesma "linguagem".
Profissionais de saúde estão acostumados a um diálogo acadêmico, científico, mas isso pode criar uma barreira de comunicação com o público. Estudos mostram que pacientes esquecem até 80% das informações médicas que lhes são transmitidas e metade do que lembram, lembram de forma incorreta.
Além disso, há uma questão de empatia. Não se trata apenas de "colocar-se no lugar do outro", mas de entender que a perspectiva do paciente pode ser diferente da nossa, influenciada por suas crenças e experiências. A empatia nos permite antecipar objeções, barreiras, e noções preconcebidas que os pacientes possam ter, tornando nossa comunicação mais eficaz.
A combinação de desinformação, barreiras linguísticas e falta de empatia cria uma base frágil para que os profissionais de saúde possam promover mudanças de comportamento por meio da educação do paciente.
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