A indústria farmacêutica está vivendo uma revolução tecnológica, com inteligência artificial (IA) e ferramentas digitais redesenhando o mapa do jogo. Nesse cenário, os propagandistas farmacêuticos – antes os maestros da conexão entre laboratórios e médicos – enfrentam um momento de definição: qual é, de fato, o lugar deles hoje? São ainda peças centrais ou apenas sombras de um passado que a tecnologia está apagando? A resposta exige mais do que nostalgia – exige um olhar crítico sobre o presente.
No Brasil, onde o contato humano sempre teve peso de ouro, a ascensão da IA provoca uma tensão palpável. O ditado "quem não se comunica, se trumbica" foi o hino dos propagandistas por décadas, mas agora a comunicação flui por canais que dispensam crachás e visitas. A indústria está reposicionando esses profissionais para atuar ao lado da tecnologia ou apenas assistindo enquanto eles tentam encontrar seu espaço sozinhos? A dúvida paira no ar como um diagnóstico em aberto.
Conheci o caso da Letícia, propagandista no interior do Rio Grande do Sul, que viu sua rotina virar de cabeça para baixo. "Eu levava meia hora pra explicar um remédio novo, mas agora o médico já viu tudo num app antes de eu chegar", me contou ela, com um tom de quem questiona o próprio valor. “Os representantes foram essenciais nos anos 90, mas hoje o médico prefere um PDF no e-mail a uma visita demorada”. A experiência da Letícia reflete um desafio maior: o que sobra para o propagandista na era digital?
As empresas têm respostas mistas – algumas inovam, outras hesitam. “Investimos R$ 2 milhões em plataformas digitais em 2023 e vimos o ROI triplicar. O representante tradicional? Só atrapalha o fluxo”. O ditado "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura" sugere adaptação lenta, mas a tecnologia não espera – ela avança como um rolo compressor. A indústria está equipando os propagandistas com novas habilidades ou apenas empurrando-os para o canto do palco?
No Mato Grosso do Sul, acompanhei a jornada do André, que tentou se reinventar em Campo Grande. "Eu era bom no olho no olho, mas agora me cobram pra usar relatórios de IA que eu mal entendo", disse ele, expondo a lacuna entre o velho e o novo. “No Brasil, o representante ainda tem apelo nas cidades pequenas, mas é questão de tempo até o digital engolir tudo”. A experiência do André pergunta em voz alta: a indústria está investindo na transição desses profissionais ou apenas esperando que eles se virem?
E os médicos, o público-alvo dessa equação, já deram seu parecer. “Eu recebo 10 representantes por semana e zero informação nova. Prefiro um webinar de 15 minutos que vá direto ao ponto”. Então, qual é o verdadeiro papel do propagandista hoje? O ditado "em time que está ganhando não se mexe" não se aplica – o time da tecnologia está na frente, e o propagandista precisa de um novo playbook. A indústria brasileira está pronta para escrever esse capítulo ou vai deixar o futuro ditar as regras?
A questão final é um convite à reflexão: os propagandistas farmacêuticos ainda têm um lugar real na indústria atual ou estão apenas ocupando espaço até a próxima atualização tecnológica? A IA e as ferramentas digitais não são ameaças passageiras – são o novo padrão. A indústria pode escolher capacitar esses profissionais para um papel híbrido, combinando tecnologia e humanidade, ou assistir enquanto eles viram notas de rodapé. O palco está montado – qual será a próxima cena?
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