Na América, HCPs tradicionais e famosos como os KOLs, muitas vezes catapultam-se para a fama através do seu domínio da mídia tradicional como televisão, rádio, livros ou revistas, e estamos acostumados a ver seus conselhos médicos e conhecimento nessas mídias.
O que possivelmente não percebemos totalmente, é o crescente grupo dos atuais estudantes de medicina que estão no caminho certo para alcançar ainda mais fama, através do prodigioso e agressivo uso de Mídias Sociais, tais como Youtube, Instagram, Twitter, Linkedin, TikTok, etc. Mesmo antes de receberem seus diplomas de medicina, esses futuros HCPs estão trabalhando duro para aumentar suas audiências, muitos têm milhares de seguidores. Muitos deles têm muito mais proficiência nas Mídias Sociais do que médicos maduros e experientes.
Alunos da faculdade de medicina de forma calculada, e meticulosamente organizada, postam relatos com longas reflexões após sessões de laboratório de anatomia e vídeos com estudantes amontoados em torno dum desfibrilador durante uma sessão de treinamento. Além disso postam fotos de espaços de estudo com livros didáticos ao lado de xícaras de café artesanal e selfies tiradas às 5 da manhã antes de ajudarem numa cesariana.
Não é raro que, de maneira relacionada ao contexto, façam anúncios e mostrem códigos de desconto para materiais de estudo e marcas de roupas. Talvez pareçam impulsivos e antitéticos quanto aos ideais da medicina e do serviço aos outros. Talvez sinta-se intrigado, como que caindo num buraco de coelho digital onde dezenas de estudantes de medicina, à luz do luar como influenciadores de Mídia Social, firmam parcerias que podem tornar-se cada vez mais questionáveis. Uns apresentavam postagens patrocinadas anunciando relógios e roupas, outros inserem links vinculados em seus blogs pessoais que permite aos seguidores comprar anúncios no seu Instagram. Outro, aspirante popular orientado ao fitness, pode promover proteínas em pó e suplementos pré-treino. Uma futura dermatologista pode apresentar produtos de cuidados com a pele. Outra estudante de medicina pode destacar colchões e serviços de aluguel de móveis que, de acordo com seus posts, a ajudam a viver perfeitamente a vida universitária.
Muitos desses influenciadores estão usando suas contas e marcas pessoais para causas objetivamente boas — alguns deles promovem mensagens importantes de saúde pública, como obter uma vacina anual contra a gripe ou se registrar como doador de órgãos. Claro, podemos simpatizar com o impulso de fazer parcerias com empresas para anunciar produtos — afinal de contas a faculdade de medicina é cara, e como pode imaginar, a publicidade pode ser um pouco lucrativa. Mas as empresas estão quase certamente mirando-os porque sabem que os estudantes de medicina podem oferecer um subjetivo envelopamento médico a seus produtos. Ao se envolver nessas parcerias, os estudantes de medicina, talvez desavisados, optaram por colocar sua "credencial médica" — muitas vezes exibida com destaque no nome ou biografia do Instagram.
Não podemos ignorar o potencial de levar as coisas longe demais, afinal de contas a medicina americana está cheia de histórias de médicos promovendo produtos questionáveis ou sem valor médico. No passado, médicos anunciaram cigarros e fizeram até mesmo parceria com distribuidoras de refrigerantes. No Instagram, os alunos de medicina já fazem propaganda para produtos como suplementos proteicos, que podem ser ricos em açúcar adicionado e podem forçar a função renal. E para o bem ou para o mal, as apostas são muito altas para os pacientes e sua saúde, mas também para os médicos e sua credibilidade. Muitos desses influenciadores têm audiências enormes e crescentes, e continuarão a tornar -se as próximas faces da medicina americana.
Os estudantes de medicina não estão sozinhos — médicos e residentes também se envolveram em publicidade em plataformas como o Instagram nos últimos anos. Eticamente, nos padrões de organizações profissionais como a Associação Médica Americana, os profissionais de saúde praticantes provavelmente estão mais conscientes tanto das boas quanto das más implicações dessa decisão de anunciar.
Mas para estudantes de medicina menos experientes, a história se torna mais complicada. Estão apenas começando suas carreiras na medicina, sem o volume de experiência clínica de médicos praticantes. Durante sua educação, permanecem numa espécie de purgatório, não exatamente dentro da torre de marfim da medicina, mas passando por experiências e observando momentos na medicina que a maioria das pessoas simplesmente não consegue ver. E as Mídias Sociais, por sua natureza, dificultam a separação de suas vidas em salas de aula ou no hospital, das vidas que levam em casa. Isso praticamente os convida a compartilhar opiniões profissionais ao lado de opiniões pessoais, onde postagens e tweets podem facilmente ser mal interpretados. A devoção pessoal de um médico a um produto é um endosso. Mas será essa uma boa escolha médica para todos? A ética inexplorada das Mídias Sociais já é confusa, e isso antes de se adicionar a influência de interesses externos, muitos dos quais estão prontos para aproveitar a capacidade dos alunos de oferecerem algum selo de autoridade médica ao público em geral sobre um produto ou ideia, sem fazer muitas perguntas.
Isso não quer dizer que os médicos não devam compartilhar opiniões: Muitos médicos já fazem isso de forma responsável online. No Twitter, em particular, os médicos criaram uma comunidade virtual que abre debates acadêmicos sobre pesquisas baseadas em evidências para o público, promove camaradagem e apoio profissional uns aos outros, e permite que os médicos falem sobre importantes causas sociais. Mas há uma diferença entre usar sua experiência para informar argumentos e usar sua experiência para vender alguns produtos fazendo alguma renda extra com os consumidores. E lidar eticamente com o capital social associado a um diploma de medicina raramente é, se nunca, discutido nessa formação.
Bem, a questão não mostra sinais de ir embora tão cedo. E as soluções para enfrentá-lo não são claras. Regulamentações firmes das sociedades profissionais sobre o que podem ou não dizer não parecem ser uma grande resposta — o que for escrito rapidamente se tornará desatualizado, dada a rapidez com que as Mídias Sociais podem evoluir.
A confiança pública em médicos diminuiu ao longo do último meio século, mas a maioria dos americanos ainda acredita que seu médico é honesto e altamente ético em sua prática.
Comente e compartilhe este artigo!
brazilsalesforceeffectiveness@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Compartilhe sua opinião e ponto de vista: